quarta-feira, 21 de julho de 2010

Crédito para consumidores supera pela primeira vez empréstimo para empresas

Pela primeira vez na história, os empréstimos bancários com recursos livres (sem subsídio) para pessoas físicas superaram os financiamentos às empresas. Segundo dados do Banco Central, a parcela desse crédito em poder das famílias alcançou a marca inédita de R$ 502 bilhões, aumento de 30% nos últimos 18 meses.

Esse valor representa um terço do crédito total do país. Não entram nessa conta os empréstimos habitacionais subsidiados com dinheiro do FGTS e da poupança, que somam mais R$ 100 bilhões. Já os desembolsos para as empresas avançaram menos de 5% nesse período e somam hoje R$ 499 bilhões. Isso significa que a maior parte desses recursos está sendo usada para financiar o consumo, em vez de investimentos e capital de giro.

Quase dois terços do aumento nos empréstimos para pessoas físicas com recursos livres nesse período se referem a operações de crédito com desconto em folha (consignado) ou a financiamento de veículos. Ou seja, duas linhas ligadas às medidas de aumento do emprego e redução do IPI para automóveis que vigoraram até março.

O crescimento diferenciado entre o crédito dos bancos para empresas e consumidores vem sendo observado desde a crise de 2008, quando secaram as fontes de recursos para empresas. Para compensar, o governo aumentou a quantidade de dinheiro subsidiado para empresas por meio do BNDES, que responde hoje por quase 40% dos empréstimos a pessoas jurídicas.

O economista Roberto Padovani, do Banco WestLB, diz que a redução do crédito livre para empresas preocupa, já que o governo não tem como bancar toda a necessidade de crédito para investimentos sem aumentar mais seu endividamento. "Parte desse avanço das pessoas físicas se deve ao recuo das empresas, que estão migrando para o crédito direcionado. Mas há limites para o governo, pois manter aportes contínuos no BNDES seria péssimo para as contas públicas", afirmou.

Para o economista Alexandre Andrade, da consultoria Tendências, o fato de o BNDES dispor de recursos com taxas menores atrasa essa recuperação do crédito de bancos comerciais.
Os empréstimos do banco estatal têm como base a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), 6% ao ano), enquanto o crédito livre para a pessoa jurídica tem hoje um custo de 27% ao ano. Andrade afirma, no entanto, que a recuperação do crédito dos bancos às empresas vai ocorrer, mesmo em um cenário de juros mais altos, pois os recursos do banco estatal não são suficientes para bancar toda a necessidade de crédito para investimentos.

Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, além da escassez de crédito, as empresas ainda enfrentam dificuldades com o encurtamento dos prazos. O crédito livre para as empresas, segundo ele, deve se recuperar apenas a partir do próximo ano, quando as taxas de juros pararem de subir e os prazos de financiamentos voltarem a se alongar. "Há uma demanda de crédito por parte das empresas pequenas e médias. Mas nem todas têm acesso ao BNDES." "Quando os juros voltarem a cair e os prazos aumentarem, o acesso ao crédito livre para essas empresas menores voltará a ficar mais fácil."

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