terça-feira, 30 de novembro de 2010

Compras de Natal vão sair mais caras

As prestações dos presentes de Natal ficaram mais caras. Segundo o Banco Central, entre setembro e outubro os juros médios para o consumidor subiram 1% impulsionados, principalmente, por expectativas de um aperto monetário até janeiro e projeções de piora para a inadimplência. Essa foi a primeira elevação após quatro quedas consecutivas nas taxas. Para quem vai bancar o Papai Noel, dividir as compras em 12 vezes, por exemplo, pode sair caro: vai desembolsar o equivalente a quase um presente e meio. Para cada compra no valor de R$ 1 mil, parcelada, o brasileiro vai gastar mais R$ 404 apenas com juros por ano.

A servidora pública Sônia Rosenberg, 41 anos, sentiu no bolso o peso dos juros. Apesar de preferir fazer as compras de eletrodomésticos à vista para fugir das taxas elevadas e de parcelamentos longos, está à procura de uma nova máquina de lavar e terá de fazer a aquisição em prestações. Na pesquisa de preços que realizou, as condições de financiamentos encontradas a assustaram. “As lojas não dão desconto na compra a prazo e terei de pagar uma taxa abusiva”, reclamou.

Sônia vai pagar uma prestação mais pesada em função do jogo entre mercado e Banco Central. Com a inflação em escalada e o mercado projetando um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,72% em 2010 — acima do centro da meta perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano — o sistema financeiro está se antecipando aos possíveis movimentos de alta na Selic e já subindo juros. Com a possibilidade de elevação da taxa básica da economia, o custo de captação dos bancos ficará mais alto e esse gasto a mais das instituições financeiras é imediatamente repassado ao consumidor.

Efeito calote

“É óbvio que as expectativas na curva de juros influenciam na formação da taxa, mas como o mercado é volátil, temos de ver com ressalvas essa elevação”, ponderou Eduardo Otero, sócio da corretora Progredir Investimento. Luiza Rodrigues, economista do Banco Santander, concorda com a opinião de Otero, mas acrescenta outro fator na conta para a elevação dos juros para os consumidores: a possibilidade de aumento do calote. “Esse maior custo do crédito para pessoas físicas decorre de medo de inadimplência e de uma expectativa de juros maiores”, argumentou. “Com a projeção de Selic mais alta, o custo de captação realmente vai subir e também deixar as taxas mais pesadas”, concluiu.

O professor Paulo Marinho Machado, 45 anos, comprou um automóvel novo em 60 parcelas, número de prestações que é considerada por especialistas uma armadilha. Deu uma entrada e obteve uma taxa de juros de 1,29% ao mês. Porém, ao fim do financiamento, terá desembolsado o suficiente para quitar dois carros iguais ao que adquiriu. “O carro é uma necessidade, uma ferramenta de trabalho. Vou comprar um e pagar quase o preço de dois”, desabafou.

Armadilha no crédito

A concessão de financiamentos no país está crescendo fortemente e em outubro bateu recorde. O volume de recursos chegou a 47,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) — número nunca registrado desde 2001, quando o Banco Central começou a fazer esse levantamento. Em valores totais, o montante de operações de crédito é de R$ 1,644 trilhão. Com tanto dinheiro na praça e os juros pesados praticados no Brasil, o consumidor precisa ficar atento para não cair nas armadilhas escondidas sobre o crédito fácil e comprometer o orçamento.

O bancário Marcelo Nonnenmarcher, 39 anos, tem aversão às altas taxas de juros praticadas no mercado e criou um mecanismo próprio para não recorrer a financiamentos prolongados. Nonnenmarcher procura poupar o dinheiro necessário para adquirir, por exemplo, um carro, e usa o cartão de crédito, que dependendo das parcelas não cobra juros, para financiar as compras de outros bens de valores menores, como uma geladeira. “Dessa forma, me livro dos juros que, no Brasil, ainda são bastante elevados”, dá a dica.

Com taxa de 40,4% ao ano, empréstimos alongados como os de 72 vezes (tradicionais para financiamento de veículos) fazem com que o consumidor pague duas vezes ou mais por um mesmo bem. Esse tipo de crédito de longo prazo também carrega riscos embutidos, como a incerteza de que o consumidor vai estar empregado dois ou três anos depois de assumir as prestações. Analistas de risco de crédito, como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Serasa Experian, afirmam que outras “turbulências”, como uma doença e problemas financeiros, podem causar a interrupção dos pagamentos. Por isso, o recomendado é fazer o mínimo de prestações possíveis.
Fonte: Correio Braziliense Online

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