segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lojistas reclamam de abusos dos administradores de shopping centers

A retomada da economia doméstica, depois de um breve mergulho na recessão provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana, gerou grandes perspectivas para o comércio varejista, mas também injetou combustível na disputa travada entre lojistas e donos de shopping centers. Os comerciantes se queixam de abusos na cobrança de aluguéis, gritam contra a falta de clareza na aplicação de taxas condominiais e defendem a regulamentação legal dos contratos entre as duas partes.

Para o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, a intervenção do Estado na forma de lei serviria para equilibrar a relação com os shoppings. “Não queremos tabelar preços, porque isso quem define é a dinâmica do mercado, mas queremos que o Estado atue para frear os excessos em um dos lados”, defendeu. A principal proposta da CNDL é a criação de uma espécie de lei do inquilinato específica para o segmento, que evite, por exemplo, a cobrança de mais de 12 aluguéis por ano. “Alguns shoppings cobram até 15º aluguel. Quando alguém aluga uma casa, o preço é definido pelo mercado, mas você só pode cobrar um aluguel por mês”, comparou.

O presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings Centers (Alshop), Nabil Sahyoun, reconhece que a rigidez de alguns administradores prejudica os lojistas. Ele disse que um dos excessos cometidos pelos shoppings é a cobrança de taxas de rescisão de contrato equivalentes a seis ou oito aluguéis. “Uma loja que está saindo do shopping, normalmente está com problemas para se manter e, para ela, esse valor é impraticável”, admitiu. Apesar de concordar que os preços de aluguéis poderiam ser menores, o executivo é contrário à regulamentação por via legal e recomenda o diálogo para minimizar as diferenças no setor. “Quanto menos o governo interferir, melhor. É preciso buscar uma relação de equilíbrio, com muita conversa”, afirmou.

Incompetência

De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi por encomenda da CNDL, 10,9% dos lojistas de shoppings apontam a má administração (por ausência, incompetência ou inflexibilidade) como um dos principais pontos negativos do comércio nesses centros de compras. Além da cobrança de aluguel indevido e de taxas de rescisão abusivas, os lojistas reclamam da diferenciação entre as grandes redes varejistas, que recebem benefícios específicos para abrir pontos em shoppings, e as lojas menores, conhecidas no jargão do setor como “satélites”. “Claro que os menores (lojistas) se beneficiam do fluxo gerado pelos grandes, mas essa diferença poderia ficar apenas na negociação do aluguel”, comentou Pellizaro. Uma das vantagens recebidas pelas grandes redes é o tratamento diferenciado na divisão do condomínio do shopping, que, segundo os lojistas, não respeita necessariamente a área ocupada por comércio.

O embate no setor foi levado ao Legislativo, onde uma frente parlamentar (do Comércio Varejista) discute, entre outros temas, a questão da regulamentação dos contratos entre lojistas e shoppings. Em tom bastante crítico, o presidente da CNDL reclamou que a aprovação de normas para o setor demora a sair por conta da pressão dos donos de centros comerciais, mas admitiu que os lojistas utilizam a mesma estratégia. “É legítimo que haja essa movimentação de ambos os lados, desde que não se utilize de métodos obscuros”, concluiu.
Fonte: Correio Braziliense Online

Nenhum comentário:

Postar um comentário