domingo, 23 de maio de 2010

É melhor o intenso que o extenso

A perfeição não está na quantidade, mas na qualidade. Tudo que é muito bom, sempre foi pouco e raro: usar muito o bom é abusar. Entre os homens, os de corpo gigante costumam ter cérebro anão. Alguns gostam dos livros por seu tamanho, como se fossem escritos para exercitar os braços mais que a inteligência. A quantidade sozinha nunca pôde ir além da mediocridade. É uma praga dos homens universais querer tudo entender, porque não se destacam em nada. O intenso produz excelência e, se o assunto for muito importante, fama.

O homem em seu tempo

Os homens extraordinários dependem da época em que vivem para se destacar. Nem todos tiveram a época que mereciam e muitos que tiveram não conseguiram desfrutá-la. Alguns foram dignos de dias melhores, mas nem tudo o que é bom triunfa sempre. As coisas têm seu tempo, inclusive as pessoas eminentes dependem do gosto da época. A sabedoria, porém, leva vantagem: é eterna. Se este não é seu tempo, muitos outros o serão.

A arte da sorte

A boa sorte tem suas regras. Nem tudo é acaso para o sábio; o esforço pode ajudar a sorte. Alguns se contentam em colocar-se com toda confiança às portas da sorte e esperar que ela faça algo. Outros, com mais tino, entram por essas portas e fazem uso de uma razoável audácia que, junto com sua virtude e coragem, pode atingir a boa sorte e obter seus benefícios. Não há, porém, outro caminho a não ser o da virtude e da prudência, porque não há boa ou má sorte, mas apenas prudência ou imprudência.

Nunca competir

Quando há rivalidade, nossa reputação pode sair arranhada. Para prejudicar, o competidor vai tentar imediatamente nos desacreditar. São poucos os que jogam limpo. A rivalidade descobre os defeitos que a cortesia havia esquecido: muitos tinham boa reputação até fazer inimigos.

O calor da disputa aviva ou ressuscita as infâmias mortas, desenterra sujeiras passadas e antepassadas. A competição se inicia com a exposição de defeitos e se apóia em tudo que encontra e não deve. Apesar de as ofensas não terem qualquer utilidade, servem para a viI satisfação da vingança. Esta dá golpes tão fortes que faz brotar os defeitos da poeira do esquecimento. A benevolência sempre foi pacífica, e a reputação, indulgente.


Texto de Baltasar Gracián, do livro “A Arte da Prudência”.


CLÁUDIO OLIVEIRA

ALUNO DO IVAR

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